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De acordo com João 1:18, como Joseph Smith viu Deus?

Pergunta

Como poderia a visão de Joseph Smith de Deus ser verdadeira se João 1:18 afirma que o Senhor jamais foi visto por algum homem?


Resposta

Essa é sem dúvida uma das questões mais debatidas quando se analisa o relato da Primeira Visão de Joseph Smith e diversos aspectos das crenças de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e nossa concepção da natureza de Deus.

O versículo em questão afirma:

“Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou.” (João 1:18)

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O ponto levantado é válido, mas carece de coerência quando analisado sob a luz de diversas outras passagens das escrituras. De fato, em inúmeras ocasiões o Velho Testamento demonstra, de maneira clara, que o Senhor apareceu a muitos de seus servos de maneira direta ou “face a face.” Alguns dos exemplos mais conhecidos incluem:

  • Atos 7:55,56
  • Gênesis 32:30
  • Atos 7:2
  • Êxodo 3:6
  • Êxodo 19:11
  • Êxodo 24:10-11
  • Êxodo 33:11
  • Números 12:7,8
  • Deuteronômio 5:4
  • Deuteronômio 34:10
  • 1 Reis 9:2
  • 1 Reis 11:9
  • Juízes 13:22
  • Isaías 6:1,5
  • Jó 19:26
  • Jó 33:26
  • Jó 42:5
  • Ezequiel 1:1
  • Ezequiel 8:1-4

Por que então João 1:18 afirmaria que Deus jamais foi visto pelo homem, se em tantas passagens exatamente o oposto é afirmado? A contradição é aparente, mas ela é resultado de um provável erro humano no processo de tradução.

Irineu, um dos Cristãos proeminentes do segundo século d.C., comentou tal passagem afirmando que “Deus nunca foi visto por alguém, ‘a menos que‘ o Filho Unigênito de Deus, que está no seio do Pai O tenha declarado.”[1]

A tradução revisada da Bíblia feita por Joseph Smith curiosamente concorda com o sentido apresentado por Irineu:

“E ninguém jamais viu a Deus, sem que ele desse testemunho do Filho; porque a não ser que seja por intermédio dele…”[2]

A utilização das palavras “a menos que” por Irineu e “a não ser que” por Joseph Smith enfatiza o caráter condicional da possibilidade de ver a Deus. O filósofo Judeu, Philo, enfatizou o próprio significado do nome “Isarel,” com os elementos “Ish” ‘rah” e “El” que significa “O homem vendo à Deus”[3]. As escrituras, entretanto, ensinam que o corpo humano de fato necessita de uma espécie de transformação para suportar ou compreender o que vê quando na presença de um ser normalmente descrito com inúmeras referências à luz inestinguível e fogo consumidor.

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D&C 67:11 ensina:

“Pois em tempo algum, na carne, o homem viu Deus, a não ser vivificado pelo Espírito de Deus.”

D&C 84:22:

“Pois, sem isso, (o poder da divindade mencionado no verso anterior) nenhum homem pode ver o rosto de Deus, o Pai, e viver.”

Relatos contemporâneos da visão de Joseph Smith declaram ainda ter Deus, o Pai “tocado” os olhos de Joseph Smith para que ele pudesse ter a visão, antes de então ouvir, “Este é meu Filho Amado, ouve-O.”[4]

Outro versículo a despertar atenção sobre o assunto é 1 Timóteo 6:16, que afirma:

“Aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver, ao qual seja honra e poder sempiterno. Amém.”

Novamente, a análise de alguns detalhes do versículo parece indicar uma possível falha no processo de tradução ou o possível uso de Paulo de uma forma escrita poética chamada Doxologia, uma antiga forma poética de adoração. As possíveis inconsistências do verso incluem:

Aquele que tem, ele só, a imortalidade: O versículo não poderia estar se referindo a Deus caso entendamos que Ele é o único a possuir a imortalidade. Cristo também ascendeu à imortalidade e o Espírito Santo também não pode morrer. De fato, quase todos os Filhos de Deus em algum momento herdarão a imortalidade.

A quem nenhum dos homens viu nem pode ver: Como demonstrado anteriormente, diversas passagens bíblicas atestam o fato de que Deus foi sim visto por inúmeros servos. O verso também não poderia ser interpretado como se referindo a Cristo, por ter Ele vivido entre os homens e revelado sua identidade pessoalmente.

Conclusão

Dessa forma, fica evidente que a interação direta entre Deus e seus servos aconteceram em diversas ocasiões do passado e também em tempos modernos. Uma questão comum a ser levantada em consequência disso é se todos os profetas e apóstolos modernos possuem igualmente contato direto com o Senhor. Embora em nossa cultura tendamos a imaginar isso como uma regra ou algo rotineiro, poucas são as ocasiões em que os profetas modernos afirmaram terem recebido interações diretas, o que demonstra que embora profetas sejam capazes de ver a Deus ou Cristo se a situação exigir, essa não constitui uma regra ou fator determinante para o chamado profético.

As escrituras mencionam uma infinidade de profetas com missões grandiosas cujos registros não necessariamente afirmam terem eles visto à Deus. Em um serão recente que tive a oportunidade de participar com o Elder Oaks, do Quórum dos Doze Apóstolo, um jovem perguntou de que maneira ele recebia revelações de Deus. Elder Oaks, em resposta, afirmou que a maioria das revelações que já havia recebido aconteceram de maneira similar a de qualquer outra pessoa: impressões e sentimentos que são mais fáceis de serem falados do que descritos.

Artigo originalmente publicado no Intérprete Nefita.

Referêcias

[1] Irenaeus, “Against Heresies,” in Chapter 6 Ante-Nicene Fathers, edited by Philip Schaff (Christian Literature Publishing Co., 1886)1:427.
[2] Tradução de Joseph Smith da Bíblia, João 1:19
[3] Charles A. Gieschen, Angelomorphic Christology: Antecedents and Early Evidence (Leiden; New York; Köln: Brill, 1998), 139
[4] Karl Larson and Katharine Miles Larson, eds., Diary of Charles Lowell Walker (Logan, UT: Utah State University Press, 1980), 2:755–56 [recorded 2 February 1893]

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